domingo, 23 de fevereiro de 2014

ZELO SEM ENTENDIMENTO

Porque lhes dou testemunho que têm zelo por Deus, porém não com entendimento. Romanos 10:2

"Zelo por Deus sem entendimento" é igual a fanatismo. E a igreja, ao longo de sua história, tem sido palco desse triste espetáculo. O próprio Paulo fora vítima da enfermidade. Ele confessa: "Na verdade, a mim me parecia que muitas coisas devia eu praticar contra o nome de Jesus, o Nazareno; e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o meu voto, quando os matavam. Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia" (At 26:9-11). Ele também diz: "Na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais" (Gl 1:14).

Charles Kingsley Barrett observa que "nenhuma nação se entregou a Deus com tal devoção e mais zelo do que Israel", mas Paulo conheceu esse zelo em forma superlativa, respirando "ameaças de morte" contra aqueles de quem discordava. Contudo, todo o zelo do mundo não tem qualquer valor sem o conhecimento para guiá-lo. João Calvino corretamente afirmou que "é melhor, como Agostinho diz, ir para o Céu mancando do que correr com toda velocidade e poder na direção errada".

Zelo sem entendimento é o vício, não a virtude, de muitos que se consideram cristãos. Deploravelmente, parece que cada congregação tem exemplos dessa realidade. Alguns são imitadores do Saulo de Tarso antes de seu encontro com Jesus Cristo, cheios de justiça própria e orgulho espiritual. E que conhecimento lhes falta? O mesmo que estava ausente em Paulo em sua experiência primitiva: o conhecimento de que eles não são autossuficientes, mas dependentes dos méritos de Jesus Cristo. Tal conhecimento traz consigo um humilde reconhecimento de nossas fraquezas e do poder do pecado, além da colossal percepção do poder de Deus.

Aqueles que pensam que sabem, diz Lutero, causam sérios e infindáveis problemas, mas "aquele que sabe que não sabe é gentil e submisso para ser guiado". Deus deseja que tenhamos zelo, mas esse deve ser um ardor pleno de conhecimento – conhecimento de nossa fragilidade e de nossa arrogante tendência de procurar ser Deus para os outros. Esse conhecimento enche nosso zelo da doçura da graça de Cristo.

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