[Jesus] deixou a Judeia, retirando-Se outra vez para a Galileia. E era-Lhe necessário atravessar a província de Samaria. João 4:3, 4
Nicodemos e a mulher samaritana são personagens exclusivos do quarto evangelho. Os dois apresentam um quadro de extraordinário contraste. Ele é um líder da austera teologia farisaica, o melhor da moralidade da época, membro da sofisticada elite. O encontro com Cristo acontece de noite, com entrevista marcada. Jesus confronta Nicodemos com uma demanda: "É necessário nascer de novo" (ver Jo 3:3). A samaritana, por outro lado, é uma religiosa quase completamente ignorante, adúltera, marginalizada dentro do sistema social e religioso dos judeus. Encontra-se com Cristo de dia. Ela não suspeita de nada. Toma o Filho de Deus por um judeu comum. Jesus a confronta com uma oferta: "Aquele, porém, que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede" (Jo 4:14).
Inicialmente, temos a impressão de estar lendo histórias sobre Nicodemos e a samaritana anônima. Contudo, essas narrativas são essencialmente sobre Jesus e o amor de Deus revelado nEle. Os extremos humanos estão aqui representados, assim como está representada a grande oferta de Deus, que se estende a todos. Os personagens humanos são nossos representantes. Neles, fica claro que a graça de Deus é para todos. Ninguém é excluído. Aqui o ministério de Jesus repreende a justiça própria de Nicodemos, bem como a indulgente promiscuidade da samaritana. Mas o que vemos, afinal, é o triunfo da graça divina.
Na conversa com a mulher, junto ao poço de Sicar, Jesus rompe com dois costumes do comportamento judaico. Primeiramente, os homens não conversavam em público com as mulheres. Em segundo lugar, os judeus rejeitavam qualquer contato com samaritanos (Jo 4:9). Os samaritanos eram judeus híbridos, considerados "vermes imundos" pelo judaísmo. Essa era uma hostilidade que se arrastava por séculos de história.
Cristo Se elevou acima de tabus, preconceitos e mentalidade de gueto para alcançar essa criatura falida. Jesus era mestre em encontrar ouro na lama. Quando ela hesita em Lhe conceder o insignificante favor de um gole de água, dever sagrado entre os orientais, Ele desarma o preconceito dela. Desconsiderando a recusa, faz-lhe uma oferta fascinante. No início da narrativa, é ela quem tem a água, e Jesus a sede. No fim, a mesa se inverte: Ele tem a água, e ela a sede. Esse sempre é o desfecho de nosso encontro com Deus. Nossa falência pode passar por inesperada mudança de rota.
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